sentido improvável – obra de samuel gapp e joão ghira
25 > 26 AGOSTO 2023 I CISTERNA FACULDADE BELAS-ARTES
Sentido Improvável, obra de Samuel Gapp e João Ghira que se realizará sob a forma de 3 atuações públicas com a duração aproximada de uma hora cada.
O corpo de trabalho será apresentado entre os dias 25 e 26 de agosto na Cisterna do Convento de S. Francisco (Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).
O local requer lotação limitada e, dessa forma, poderá inscrever-se no horário / atuação mais conveniente através do link: https://forms.gle/N8MYJS5U1wNsvVWVA
No âmbito do seu mestrado em composição, Samuel Gapp tem realizado uma investigação sobre perspectivas para o processo criativo na música, com foco na área intermédia entre a improvisação e a composição escrita. Neste contexto, convida João Ghira a pensar a composição numa criação inédita. É assim que durante 5 meses o duo se tem proposto a um corpo teórico e físico que encontra as suas formas de fazer. A obra apresentada define um percurso que dialoga com o visitante-público, envolvendo-o num jogo de decisão e controle ilusórios. As componentes da interactividade são essenciais para o ser da peça, que é construída em tempo real, tornando-se cada performance numa estreia.
A exposição conta com um grupo amplo de artistas e pensadores de diferentes proveniências, com os quais temos o prazer e privilégio de trabalhar, e que são corpo da obra:
Eva Aguilar (violoncelo)
Pedro Massarrão (violoncelo)
Afonso Gaspar (flauta)
Mariana Dionísio (voz)
Tiago Mourato (clarinete)
Honza Michálek (saxofone)
Miguel Cardoso (tuba)
Inês Zinho (performer)
Realização e produção de vídeo: Marco Sardinha
Captação e edição: Hugo Nunes e Kenny Gad
A positividade dos atos, a saber, criativos, dos dois artistas e de suas práticas, torna a priori um obstáculo o pensar-se na composição. O ser-composição-da-obra. O seu pertencer a determinado sítio e tempo, a demarcação na construção de um objeto composto e a introdução da definição de um caminho subjectivo aparecem como barras de salto que nos fornecem pistas sobre o que algo pode ser. Para além, o Homem tende a reservar a obra a tempos e tempos, características e memórias, encerrando-as em períodos. Todavia onde está o ser intemporal, transversal, e originário da obra? Não o que a representa agora, mas a sua originalidade e fruto [de necessidade]. O objeto universal e filosófico que se dá a pensar, enfrenta a necessidade de composição. Como pensar nesses traços mais permanentes sem que se parta de algum princípio?
Para a apresentação deste corpo uma ruptura nos meios e formas teve de ter lugar, essa mesma tentativa de não exortar a autoria ou cunho, enquanto fazedores de obra, e constituintes do seu próprio leque de ação e linguagem. Ainda assim, a obra falha, tornando-se numa via que apenas se pôde aproximar da questão da composição. A linguagem plástica, os contornos, preenchimentos e formas de eliminação são trazidos a combater o médio e o transeunte, e estão também em combate entre os corpos e mentes de Gapp, Ghira e o Corpo Artístico, que lutam para se aproximar do que é nuclear e essencial para a apresentação de uma peça. A obra é apenas o começo de uma colaboração e itinerância e são desenvolvidos textos que complementam as suas teses e enriquecem as suas práticas pessoais.
Não há céu, apenas atmosfera ou éter das ideias, a génese-ideia admite a própria obra-ser, e o material compõe-na, velada. A ideia torna-se algo de concreto, e desde já se torna existente e falível. Ícaro não nos orienta, apenas se mostra como objeto estético numa constante ascensão e queda. A anunciação da Virgem Maria é enclausurada. Aqui a obra quer-se formar, mas abala-se, propondo-se a um eterno princípio. E porquê, porque quer composição, ou melhor, é uma sua origem. Porque qualquer ato de construção que tente perceber a composição caí de facto em subjectividade, e o que se quer pensar é a eteridade da obra, a universalidade e existência da composição como labirinto. E por que razão o humano começou a harmonizar? Então, prende-se aqui um princípio de lugar, estar e sobrevaler de um ser que luta pelo desvelamento ou clarividência? A captação-da-obra, o que ela capta, é essência capturada por insensatez do artista.
É com gosto que os convidamos assim para o início de uma conversa frutífera,
Gapp e Ghira
Samuel Gapp, nascido na Alemanha, tem desenvolvido obras musicais, interdisciplinares e educativas, ligadas à improvisação e à composição escrita. Ativo como pianista e compositor na cena contemporânea, tem colaborado com múltiplos artistas e instituições a nível internacional em iniciativas culturais e educativas. A sua obra tem sido premiada em Portugal nos últimos anos.
João Ghira, nascido em Portugal, tem desenvolvido trabalho na área das artes visuais. A sua prática é alimentada por diferentes áreas de interesse e investigação como a psicologia, a filosofia e a literatura. A criação de objectos não tem sido serial ou estrita a uma única forma de comunicação. O seu trabalho demonstra uma simbiose entre a pintura e escultura, explorando os limites da entidade bidimensional das superfícies.