OUTRA NATUREZA – exposição de Melissa Barbery, Orlando Maneschy, Danielle Fonseca, Keyla Sobral, Luciana Magno, Victor de la Rocque
27 MAR > 09 ABR | GALERIA FBAUL
Curadoria
João Paulo Queiroz
Orlando Maneschy
Assessoria
Eliane Gordeeff
De que maneira a experiência íntima com a Natureza afeta a produção dos jovens artistas que vivem na Amazônia? Em que medida esse contato com o orgânico, com o espaço natural e com a ideia de paisagem se revela em suas obras? Observando o trabalho desses artistas, pensamos no entendimento acerca do conceito de Natureza — enquanto fenômenos físicos, de condições essenciais, supostamente próprias das coisas no universo são postas em fricção com a forma de estar no mundo deflagrada pelos seres vivos —, e ainda em como a lógica ocidental instituída não leva em conta o saber tradicional do homem da região. Assim, buscamos lançar um olhar sobre a complexidade presente no fazer artístico desses artistas, estruturados como outras sistematizações de mundos, em um contra-fluxo das padronizações pré-estabelecidas dentro de categorias rígidas de entendimento.
Nesse cenário, fotografias são fruto de performances; desenhos são construções de arquiteturas íntimas; performances discutem o lugar da imagem, em que o corpo assume papéis que se modificam, e transforma-se em outros. Esses artistas vem amplificando a reflexão acerca do conceito de Natureza, propondo experimentações que amolecem as perspectivas das linguagens — seja desenho, fotografia, performance —, com obras de grande intensidade por emergirem de verdadeiros arrebatamentos artísticos.
Danielle Fonseca, vem se destacando com projetos complexos em que a relação com o espaço natural e a experiência do sujeito eclode em vídeos, fotografias e instalações, em que ora a literatura, ora a filosofia deflagram ações e instigam a realização de imagens. Keyla Sobral vem realizando uma reflexão sobre a alma humana constituindo desenhos delicados que falam de solidão, territórios íntimos, paisagens afetivas. Já Luciana Magno parte do corpo, do atrito deste com o ambiente, para constituir imagens em que busca uma simbiose com o mundo natural, na tentativa de mimetizar- se a esta. Também partindo do corpo, Victor de La Rocque apresenta performances orientadas para a fotografia, nas quais asas parecem brotar de seu rosto. Pequenas intervenções no espaço urbano ocorrem ao longo do projeto Low-Tech Garden — jardim de pequenos objetos luminosos de Melissa Barbery —, e transformaram-se em imagem, quando a artista dispôs esses objetos em lugares degradados ou em processos de modificação na cidade, refletindo sobre a transformação dos espaços.
O estabelecimento de pequenas ações, intervenções silenciosas na paisagem, em processos de diálogo com aquilo que os rodeia é algo que se manifesta aqui, nessas obras. Talvez, uma forma sutil mas não menos intensa de olhar para a Amazônia e ser atravessado por aquilo que esta reverbera como resposta.
Orlando Maneschy