o longe e as imagens — exposição da pós-graduação em discursos da fotografia contemporânea
15 SETEMBRO > 03 OUTUBRO | GALERIA 5D CREATIVE HUB
No dia 15 de setembro, pelas 16:00h, inaugura na Galeria 5D Creative Hub, a exposição “O Longe e as Imagens” dos alunos da Pós-Graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea das Belas-Artes Lisboa.
A finissage será no dia 3 de outubro às 16:00h.
Coordenação
Rogério Taveira
Gosto de pensar que a fotografia é uma forma de habitar.
Para ser habitada deve, primeiro, ser construída. Deve obedecer às regras da boa construção. Aquela que deve permanecer para que nos possamos “de-morar”[1] nela. Edificar uma imagem é construir uma possibilidade. Uma possibilidade que devemos cultivar e proteger, habitualmente. Para que fotografar possa então ser uma arquitectura do pensamento da imagem. Mas, como na arquitectura das pedras ou do betão, temos de começar por indagar o que é habitar para que possamos construir com solidez conceptual e material.
George Perec em Espèces d’espaces trabalha o espaço a partir da banalidade da vivência quotidiana. Viver, para ele, é “passar de um espaço para outro, enquanto fazemos o melhor possível para não esbarrar em nada.”[2] Por isso o espaço é, para ele, aquilo “onde a visão tropeça”[3]: sem obstáculos, tijolos, ângulos ou pontos de fuga o nosso olhar não vê nada. O nosso olhar é então convocado por obstáculos. Idiossincráticos. Uma parede pode ser uma mãe ou um inimigo. Uma habitação tal como uma página pode estar cheia ou vazia. Os signos habitam a página, percorrem-na[4].
Mas as dúvidas continuam sobre o que é o habitar: “Habitar um lugar é apropriar-se dele? O que é apropriar-se de um lugar? A partir de que momento um lugar se torna realmente nosso? É quando pomos os nossos três pares de meias de molho numa bacia de material plástico rosa?”[5]
A questão central parece situar-se então na forma como nos apropriamos de um lugar. Como nos de-moramos nele. Como construímos obstáculos. Como circunscrevemos o aberto de possibilidades a apenas uma. Uma imagem. Uma bacia de plástico rosa com três pares de meias de molho.
Gosto de pensar que a fotografia é uma forma de habitar.
Rogério Taveira
Coordenador da Pós-Graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea
[1]Heidegger, Martin (2008) “Construir, Habitar, Pensar” in Ensaios e Conferências, Petrópolis, Editora Vozes, 1954, p.129.
[2]Perec, Georges (2000) Espèces d’espaces, Paris, Galilée, 1974, p.16. “Vivre, c’est passer d’un espace à une autre, en essayant le plus possible de ne pas se cogner.”
[3]idem, p.159. “(…) ce sur quoi la vue bute”.
[4] Idem, p.19. “A Página” inicia-se com uma epígrafe de Henri Michaux “J’écris pour me parcourir”.
[5]Idem, p.50. “Habiter un lieu, est-ce se l’approprier? Qu’est-ce que s’approprier un lieu? À partir de quando un lieu devient-il vraiment vôtre? Est-ce quand on a mis à tremper ses trois paires de chaussettes dans une bassine de matière plastique rose?”