Morreu o historiador José-Augusto França
A Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa lamenta profundamente a morte do Professor José-Augusto França (1922, Tomar-2021, Jarzè) que nos deixou no passado dia 18 de setembro. A sua colaboração com a FBAUL foi diversa, tendo participado em inúmeras conferências, encontros e eventos desenvolvidos pela faculdade, além da publicação de textos nesse âmbito.
Figura ímpar da cultura portuguesa, J.-A. França destacou-se enquanto professor, historiador e sociólogo da arte, desenvolvendo uma metodologia própria para o estudo dos factos artísticos. Foi especialista em diversas matérias como a época pombalina, o romantismo e a arte contemporânea, sem esquecer a sua amada cidade de Lisboa, a quem dedicou obras como “Lisboa Obra Física e Moral” e o célebre livro sobre o percurso do elétrico 28 pelas colinas da cidade. Dedicou estudos exemplares a Amadeo de Souza Cardoso, Almada Negreiros e Rafael Bordalo Pinheiro e Columbano entre outros, tendo sempre presente o trabalho de investigador e de divulgador.
Como critico de arte, J.-A. França publicou desde muito jovem, e integrou o Grupo Surrealista de Lisboa, publicando o balanço das atividades surrealistas do grupo em 1949 e tendo continuado a acompanhar o percurso dos artistas, após a dissolução do grupo. A sua atividade critica que se estendeu também ao cinema, e a valorização da arte portuguesa não se cingiu apenas a Portugal, mas expandiu-se em França, Brasil e outros países, tendo fundado em Portugal a Secção Portuguesa da AICA (Associação Internacional do Críticos de Arte), e ocupado o lugar de presidente, o que veio permitir a renovação da critica de arte e também a valorização da arte contemporânea e dos seus autores.
A J.-A. França se deve a criação do primeiro mestrado em História da Arte na FCSH-UNL na década de oitenta, ciclo de estudos fundamental para o incremento da investigação nesta área, dando-se continuidade no doutoramento e formando discípulos atentos ao património e à arte num Portugal renovado pós o 25 de abril de 1974. Para além das suas funções como Professor Catedrático, J.-A. França, ocupou muitos outros cargos e funções e foi condecorado pelo Presidente da República, e agraciado com a Medalha da Cidade de Lisboa e diversas distinções. Ao longo da sua vida, dedicou-se também à escrita: o romance, o teatro, a crónica e o folhetim e inclusive a poesia.
A sua relação com a comunidade artística nacional e internacional e amizade com os artistas veio progressivamente permitir a constituição de uma coleção contemporânea notável que foi exposta no Museu do Chiado (1997), e em parte doada à sua cidade natal, Tomar onde se encontra o museu “Núcleo de Arte Contemporânea” (NAC) desde 2004. Personalidade eminente, J.-A. França é um exemplo para todos nós, em especial para aqueles que fazem da arte o seu “modus vivendi”.
Cristina Tavares