lançamento do nº 10 da revista “nova síntese – neo-realismo e artes visuais”
17 FEVEREIRO > 18H00 I AUDITÓRIO LAGOA HENRIQUES I ENTRADA LIVRE
O presente número conta com colaboração de Fernando Rosa Dias e Eduardo Duarte, docentes da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
A apresentação da revista será feita pela Professora Cristina Azevedo Tavares.
O presente número da revista Nova Síntese é dedicado às relações do neorrealismo com as artes visuais. O tema impõe-se, desde logo, pela natureza específica de uma ligação profícua e complexa (contrariando assim algumas ideias comuns que proliferam ainda na história da arte do nosso país) e que motivou o empenho de muitos dos melhores artistas da terceira geração modernista portuguesa, com expressão desde meados dos anos 40 até ao final da década seguinte. Apesar de a produção de obras de arte inspiradas por alguns princípios estéticos e éticos identificados com o movimento neorrealista ter dominado sobretudo a arte moderna portuguesa no período do imediato pós-guerra, uma poética sensível aos temas sociais, com sentido mais ou menos crítico e reivindicativo, fez o seu caminho ao longo dos anos 50 até se associar, lentamente, a uma opção mais individual de observação e prática em torno de uma nova figuração inspirada já por outras coordenadas, como podemos ler na interpretação proposta por Fernando Rosa Dias, no primeiro e mais extenso ensaio desta edição. Diríamos que, durante pouco mais de quinze anos, o neorrealismo esteve presente no percurso, no imaginário e nos desenvolvimentos da arte portuguesa de um modo que merece não apenas ser reconhecido como reinterpretado, sob a ótica de novas linhas de investigação que contribuam finalmente para desfazer mitos e ideias pouco produtivas sobre a sua importância no panorama artístico do século XX português. Essa mesma ideia havia já presidido ao conjunto de ensaios sobre artes plásticas, fotografia e cinema que fora publicado pelo Museu do Neo-Realismo em 2007, aquando da apresentação do livro-catálogo da exposição permanente do museu vila-franquense, intitulada “Batalha pelo Conteúdo – movimento neo-realista português”. Passada uma década sobre esse primeiro balanço, julgámos ser oportuno lançar de novo o desafio a alguns investigadores portugueses para sobre esta matéria se pronunciarem ou promoverem a publicação de alguns contributos entretanto confirmados.
Nessa medida, este número da “Nova Síntese” apresenta nove ensaios que investem noutras leituras sobre alguns aspetos artísticos centrados ou tangenciais ao neorrealismo e que, estamos certos, contribuirão de modo decisivo e influente para uma nova luz sobre o tema. Como já referimos, o primeiro ensaio é da autoria de Fernando Rosa Dias e realiza uma profunda revisão sobre as “encruzilhadas” do neorrealismo nas artes plásticas, prevalecendo essa ideia de que o neorrealismo português “nunca se quis confundir com o realismo socialista soviético, que tinha sacudido as dinâmicas das vanguardas russas ao longo do tempo entre as duas guerras mundiais. As suas referências e soluções plásticas procuravam um constante acerto com um desejo de modernidade”. Eduardo Duarte centra a sua atenção sobre a escultura neorrealista, elaborando uma análise que observa a escultura portuguesa desde os primórdios do modernismo até à influência dos neorrealistas nas práticas da escultura do pós-25 de Abril, em particular no espaço público democrático. Mário Dionísio, nomeadamente desde a sua atenção a Portinari até à publicação dessa obra monumental que é “A Paleta e o Mundo”, merece a atenção cuidada de Paula Ribeiro Lobo. Já José Luís Porfírio dá o seu testemunho reflexivo sobre a importância do “atelier” na prática pictórica de Rogério Ribeiro. A pintura de Rogério Ribeiro é ainda objeto de estudo por parte de Emília Ferreira, que analisa cinco obras do pintor, sublinhando aí a natureza da “tragédia como consciência e resistência”. O pintor Luís Dourdil é por nós interpretado à luz de uma aproximação ao neorrealismo, a partir de uma obra de exceção: “Homens do Fogo”. Luísa Duarte Santos desenvolve uma nova leitura sobre as relações entre a “representação social em arte” e o “empenhamento político-artístico”, a partir das “imagens” publicadas no influente “O Diabo”. A descoberta da identificação de um fragmento de uma pintura de Moniz Pereira serve de mote a Paula Loura Batista para repensar o conceito de “aura” da obra de arte e a sua revalorização no processo de investigação em história de arte. Por fim, o livro “Portinari – Três momentos”, de Elza Ajzenberg, foi o ponto de partida para Maria de Lurdes Riobom pensar a obra do influente pintor modernista brasileiro, Cândido Portinari.
Desta pluralidade de leituras e perspetivas sobre as relações do neorrealismo com as artes visuais, em especial com a pintura, o desenho e a escultura, se formou afinal este volume coletivo dedicado a uma experiência estética e artística tantas vezes olvidada pela investigação e pela história da arte portuguesas. Esperemos que no futuro próximo mais contributos possam neste contexto aparecer, fortalecendo desse modo a diversificação de uma analítica que favoreça a consciência histórica e artística do neorrealismo, sua amplitude e influência na cultura portuguesa do século XX, manifestando ainda a todos os ensaístas que participaram neste número da “Nova Síntese” o nosso mais profundo e vivo agradecimento.
David Santos