Exposição Finalistas Pintura 2013-2014
4 FEVEREIRO > 6 MARÇO I SOCIEDADE NACIONAL BELAS-ARTES I 12–19h
28 em 2014
Vinte e oito novos finalistas da licenciatura de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Vinte e oito novos pintores, vinte e oito novos artistas. Juntos no tempo e no espaço e, no entanto, trabalhando, pensando e reinventando tão diversamente as questões em torno desse tempo e desse espaço. Tal como as da luz e da cor, da sombra e da textura, da forma e da mancha, da matéria e da estrutura. E do suporte. Mas, acima de tudo, abordando e desenvolvendo de forma diferente o(s) próprio(s) conceito(s) de pintura.
A escola de Belas-Artes orgulha-se da qualidade destes novos artistas, da maturidade dos seus trabalhos e, sobretudo, das promessas de futuro que neles se encerram. Juntos, autores e obras agora expostos demonstram não só a qualidade daqueles que nos procuram para obter a sua formação universitária mas também a elevada qualidade da formação efetivamente obtida e a diversidade de experiências que aí encontram, assimilam e transformam.
Na lapidar frase de 1950 com que abriu o seu The Story of Art, escrito a pensar nos jovens, E. H. Gombrich afirmou: There really is not such thing as Art. There are only artists – a qual pode ser traduzida como «Não existe realmente algo a que se possa chamar Arte. Existem apenas artistas». De algum modo é esta ideia que vemos aqui aplicada à Pintura.
Vítor dos Reis
(Presidente da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa)
EXPOSIÇÃO DE FINALISTAS – PINTURA (Ano lectivo 2013/2014)
A Faculdade de Belas-Artes volta aqui a fazer um balanço alargado dos trabalhos dos ateliês de Pintura (nas duas disciplinas semestrais de Pintura V e Pintura VI do ano lectivo passado). O critério é sempre o mesmo e o mais acertado: todos os finalistas participam, sem excepção, até porque todos desfrutaram de livre convívio e discussões de trabalho anual, trabalho contínuo, empenhado e interessado em que as interrupções lectivas não se fizeram sentir: ora porque a necessidade de trabalhar/criar é incessante, ora porque uma obra está sempre “incompleta”.
A chamada curadoria destas exposições é “aberta” e diria mesmo “democrática”: de cada aluno, aqui já proposto como artista (aliás ao finalista se lhe diz sempre ser já artista que como tal tem de pensar quando realiza trabalho avaliativo: avaliação? Sim, que ele imagine tal como sendo uma exposição individual), de cada aluno/autor se escolhe (com o próprio) um conjunto de trabalhos que melhor o represente, em troca de opiniões docente/discente. Sempre assim foi e continuará a ser.
Só esta conjugação – participam todos e de cada um se mostra o “melhor” (ideia complexa e nada simples) – pode ser critério de uma exposição como esta, representativa da relação entre singularidades artísticas e lugar partilhado, neste caso escola, ateliês com alunos-autores em permanente interacção. Esta é uma colectiva sujeita à crítica e uma última exposição escolar. Duas coisas em simultâneo, portanto.
Supõe-se que essa interacção seja a ferramenta de trabalho privilegiada, pois, como se dizia há umas décadas nessa mítica escola que foi o Black Mountain College, primeiro está o aluno, suas ideias, práticas e idiossincrasias, depois está o currículo da disciplina, concretamente o seu programa que, a este nível, não existe pura e simplesmente. É o aluno que, no início do ano, o propõe – o seu, entenda-se. Se quiséssemos usar outra figura conhecida do pensamento, diríamos com Jacques Rancière que o mestre é uma espécie de “mestre ignorante” no início, pois tem que encontrar-se, nesses primeiros dias de trabalho, com e no território do aluno.
Pretende-se ainda que esta, como as exposições anteriores, ultrapasse a ideia da mera renovação cíclica e inevitabilidade de sequências geracionais em modas alternadas. Quero dizer que, mais do que renovação, seria interessante encontrar aqui surpresas, não diria rupturas mas sobressaltos, ou seja, não se deseja nestas colectivas apenas uma “renovação na continuidade”, mas antes encontros com linguagens que deixem o espectador perplexo, exercendo as suas faculdades críticas diante de objectos aparentemente com poucoem comum. Comopouco em comum, aparentemente como disse, podem ter autores que partilham espaços e opiniões por vezes há mais de um ou dois anos. Apesar disso, há distâncias interessantes de observar. E proximidades provenientes desse espaço partilhado que é o ateliê da escola (ou as discussões de ateliê).
Deve também ver-se nesta exposição uma prova de capacidade organizativa além de criativa e balanço prospectivo dos alunos (que tudo isto organizaram – exposição e catálogo –, naturalmente com apoio da escola). Portanto, dá a exposição sequência aos conteúdos programáticos das disciplinas de Pintura V e VI (digamos, continua a “exposição” da Avaliação Final), revela a sua pertinência no contexto do ensino artístico, alicerça-se ainda na fase final da formação escolar como o momento por excelência dirigido à avaliação individual no seio do colectivo.
Trata-se de um balanço de actividades num momento em que os alunos-artistas já não operam em rígidas fronteiras disciplinares nem numa separação de blocos escola/exterior/mercado/crítica, pois estão, muitos deles, conscientes das necessidades profissionais e do tipo de circulação que melhor responde às suas opções. Tudo isso sairá clarificado e aqui demonstrado numa medida, digamos, directamente proporcional à disparidade de propostas sugeridas.
Disparidade, singularidade, unidade e contradição. Generalizando, é em torno destes quatro pontos que poderemos encontrar, professores, colegas e alunos, protagonistas e outros “agentes” do território da criação, a realidade do “ser comum” do estético, daquilo que, por entre contradição e oposição, se não deixa de chamar arte da pintura. Continuadamente.
Na impossibilidade de nomear e analisar todas as obras, destacaríamos alguns tópicos: vemos sempre motivações de tipo sociológico e realista, que são sempre mais do que meros exercícios de “representação”, antes o estudo dos géneros como pretexto para aprofundamento dos elementos estruturais da nossa linguagem, a ideia de objecto, a abordagem à fotografia, a experiência da autoria colectiva, o limiar da figuração, a imaginação incondicionada. E, como costumamos afirmar, que o todo vá além da soma das partes.
Carlos Vidal