Escrita Rizomática em Termos Esculturais
15 MAIO > 15 JUNHO 2024 I ISEG
Inaugura no dia 15 de maio, às 18h00, no ISEG, Convento das Inglesinhas, a exposição Escrita Rizomática em Termos Esculturais de Rajaa Paixão, Investigadora do CIEBA, Centro de Investigação em Estudos de Belas-Artes, no âmbito da parceria ISEG – FBAUL.
A exposição estará patente no ISEG até ao dia 15 de junho.
Entrada livre.
A investigação artística doutoral, incluindo a investigação relacionada com a prática com as suas diversas terminologias, evoluiu drasticamente na última década e continua a afastar-se de modelos emprestados de outros campos do conhecimento. Apesar de algumas universidades oferecerem cursos que culminam em artefactos que falam por si sem uma exegese obrigatória, a documentação escrita é obrigatória na maioria das instituições académicas em todo o mundo. Com a pesquisa pós-qualitativa decorrente de sentimentos, experiências e ideias, a voz do/da artista-escritor/a ainda precisa se conformar ao formato rígido da estrutura, modelo e ordem de desenvolvimento da dissertação tradicional.
Muitas vezes, construir uma investigação em torno de um(s) teórico(s) específico(s), ou argumentar para responder a questões pré-formuladas ou ‘problemas’ exigidos pelo discurso da pesquisa mapeia o processo artístico e limita a originalidade da exploração. Como é a tese escrita para autores cuja dissertação é essencial para a pesquisa quando hipóteses e teorias são gradualmente construídas seguindo linhas de pensamento desdobradas que geram novas ideias? A exposição fornece um elo que faltava entre o desenvolvimento das obras em ateliê e o texto escrito. Estabelece uma transição ao apresentar uma interpretação visual de uma metodologia de pesquisa em artes.
Cada escultura da exposição reivindica as suas próprias necessidades experimentais, explorando a passagem da escrita linear para a escrita rizomática com base no conceito dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari (1987) de uma rede de rizomas conectando qualquer ponto a outro. As formas visuais extraem o caule horizontal da planta subterrânea conhecido como rizoma acima do solo para ser visto. As intervenções escultóricas unem as respectivas compreensões do antropólogo biológico Ralph L. Holloway (1969) e do antropólogo Tim Ingold (2013) sobre o processo de produção. As estruturas pré-planejadas correspondem ao processo de Holloway claramente definido por um ponto de partida e um ponto final.
Na escultura superior – ao contrário dos materiais sólidos – as fitas macias obedecem à força gravitacional no plano inclinado e permanecem retas. Na escultura inferior maior, a instalação de tecidos rebeldes é intuitiva e espontânea. Segue os pensamentos de Ingold sobre o fazer como um ‘processo de crescimento’, respondendo aos fluxos dos materiais disponíveis. Passear pelas longas encostas inclinadas ecoa o gesto de percorrer as páginas intermináveis do documento de tese representado pelos desenhos emoldurados inclinados.
Os trabalhos foram desenvolvidos para responder ao espaço luminoso do ISEG. As esculturas canalizam a cor natural em que os rizomas prosperam e ampliam a vegetação e as árvores circundantes. O seu verde abstrato regula a energia espacial para os alunos circulantes, diminuindo a pressa e aliviando o estresse de uma longa e intensa jornada académica. Além disso, mostrar a prática qualitativa num espaço baseado em estudos quantitativos reforça a colaboração de longa data entre os campi de arte e economia.
Rajaa Paixão
SOBRE RAJAA PAIXÃO
Rajaa Paixão (n. 1980) é uma artista multidisciplinar libanesa-portuguesa, curadora independente e criativa premiada com sede em Lisboa. É doutoranda em Artes Plásticas/Escultura (teoria-prática) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL), e membro do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA), Lisboa. Paixão possui Master of Arts com Distinção em Prática Artística Europeia pela Kingston School of Art, Londres (2014); Mestre em Artes com Distinção em Comunicação e Artes Visuais pela Holy Spirit University of Kaslik (USEK) (2003); e um Bacharelado Francês em Literatura e Filosofia Francesas.