Quando a gravura vem nas ondas do mar — exposição de josephine gerhardt
07 > 14 MARÇO 2023 I GALERIA BELAS-ARTES
Inaugura no dia 7 de março, às 18h00, na Galeria da Faculdade de Belas-artes, a exposição Quando a gravura vem nas ondas do mar de Josephine Gerhardt, com curadoria do Professor José Quaresma.
A exposição ficará patente até 14 de março.
Horário: 2ª a sábado entre as 11h00 e as 19h00
O mar e a gravação de marcas numa superfície têm origens num passado muito distante. Tão embrionário, tão incompreensivelmente remoto que, já o mundo era duplicação e metamorfose em impressões subaquáticas e ainda não tínhamos “homem”. Falo de um estranho grupo de seres vivos — Rangeomorpha —, agora fósseis de Mistaken Point (descobertos em 1967),produzidos há aproximadamente 540 milhões de anospor uma erupção vulcânica cujo fluxo piroclástico sedimentou no fundo mar.
“Entretanto”, o mar continuou a fazer das suas. As inúmeras marcas e impressões nunca mais cessaram, e, com a mão humana, redimensionaram-se para o “Bem” e para o “Mal”.
Permitam-me a referência a uma manifestação de street art juvenil: em setembro do ano passado, no asfalto de uma rua de Lisboa, em redor da grelha de uma sarjeta, vi e li isto em letras brancas: “O MAR COMEÇA AQUI”. A grelha estava pintada de azul, esta mancha transbordava-a, e das suas gretas escuras saiam grandes e sinuosos tentáculos de polvo, pintados de castanho claro, a par de outros símbolos da vida do mar.
Ora, a grelha pintadinha de azul, mais do que evocar o Mar no coração da cidade, vai mesmo “dar lá”. Sucede que esta exposição de Josephine Gerhardt, na Galeria da FBAUL, também “lá vai dar” por outros caminhos: pela expressão gráfica qualificada, por pugnar pela ideia de uma sustentabilidade que regule o nosso quotidiano, e ainda, pela crítica ao nosso desamor pela natureza e fraca empatia com as gerações futuras.
A eficácia da sua instalação gráfica, longamente preparada e experimentada, serve-se (e serve-nos) de um “tapete” compacto constituído por milhares de cascas de mexilhões através das quais podemos deambular.
Proporciona o vislumbre de frisos com múltiplas impressões a tinta de alga real (algas spirulina) e outras manchas, realizadas com pacotes Tetra Pak, encontrados nas praias portuguesas, embalagens essas que cumprem o papel de matrizes “malditas”.
Estas manchas, ora de forte impacto, ora de assimilação subtil, impelem-nos a uma experiência estética e plástica singular. Paralelamente ao prazer em imergir nesta instalação gráfica, somos ainda convidados a aprofundar uma ideia mais cuidada da Natureza e um novo sentido de Comunidade.
José Quaresma
Lisboa, 3 de março, 2023