identity & land — exposição de rita andrade
© Marie Bacelar
08 > 26 AGOSTO 2023 I GALERIA FBAUL
Considerando as Jornadas Mundiais da Juventude e a tolerância de ponto dada pelo governo dias 3 e 4 de agosto, informamos que a INAUGURAÇÃO FOI ADIADA PARA DIA 8 DE AGOSTO.
Inaugura no dia 8 de agosto, às 17h00, na Galeria da Faculdade de Belas-Artes, a exposição Identity & Land de Rita Andrade. A exposição ficará patente até 26 de agosto.
Este evento é passível de ser fotografado e filmado e posteriormente divulgado publicamente.
Horário: 2ª a 6ª entre as 10h00 e as 17h00; sábado entre 10h00 e as 15h00.
Em Identity & Land, a pintora e ativista Rita Andrade partilha aquela que foi a sua experiência durante a sua viagem à Palestina em 2019. A artista utiliza a pintura, uma forma pacífica de comunicação, como forma de protesto contra a ocupação ilegal de Israel na Palestina.
“A Arte é uma forma não violenta de me expressar, de espalhar uma mensagem, e de fazer uma intervenção. Eu acredito que a arte pode ter uma importante função na transformação social, e eu espero conseguir fazer isso mesmo”
Rita Andrade, 2023
NIGHTFALL IN GAZA
Diz Paul Veyne que a História é um romance, pode ser “criativa” nas suas versões, mas é um romance realista, avisa. Por exemplo, no caso do conflito, ou guerra de ocupação israelo-árabe, que os sionistas chamam, ou chamaram (nos anos 40), “guerra da independência”, a posição equidistante é a pior e a mais desumana. De facto, desde 1948, ano da declaração de independência de Israel (uma “declaração”, note-se, sem nenhuma relação com qualquer tipo de luta emancipatória), houve e há na Palestina uma ocupação ilegal (Israel e a brutalidade destrutiva que geraria os “colonatos”, sistematicamente condenados pela ONU), uma ocupação baseada numa mentira que diz ter sido edificado um estado que é uma terra sem povo para um povo sem terra. Uma terra sem povo?
Começa aqui o projectado genocídio e o apartheid: com efeito, os árabes israelitas são o que Agamben poderia chamar de “vidas nuas”, pois Israel não é um estado multinacional quando se afirma a pátria judaica. Nestes termos, defender os direitos palestinianos sinaliza dois factos: mostra que denunciar Israel deve servir para distinguir o anti-sionismo (e foi o sionismo que destruiu o Hotel King David em 1946) do anti-semitismo (uma abjecta forma de racismo); por outro lado, defender os palestinianos é defender um povo que habita uma terra há milénios e a perdeu (a Nakba): a terra, as vias de comunicação, as cidades (há novas cidades nos colonatos, mas essas são inacessíveis) e a oliveira que a mulher de lenço branco abraça, numa das telas da exposição, porque sabe que perdeu a sua fonte de subsistência. Rita Andrade, com mestrado pela Goldsmiths em Art and Politics, conheceu esta realidade, viveu-a e sabe o que é o apartheid da Palestina que resiste desde 1948.
Repare-se que dizer “estado judaico” (e não “estado dos cidadãos”, como na Europa desde o Iluminismo) configura um enunciado antidemocrático. Por isso, Edward Said sempre advogou para a Palestina um só estado binacional, algo como a África do Sul multicultural de hoje. Sem colonatos nem bantustões. Um mundo distante, contudo.
Carlos Vidal