distância(s) / distance(s) – exposição individual / solo exhibition Pedro Léger Pereira
5 FEVEREIRO > 4 MARÇO I GALERIA FBAUL
distância(s) distance(s)
Exposição individual de Escultura . Solo Sculpture exhibition
Autor Author Pedro Léger Pereira (BIOGRAFIA)
Curadoria Curators Jørgen Blitzner , Artista e Curador (NO) . José Esteves, Escultor (PT)
Música Original Original soundtrack (vídeo) Sonja Otto (DE)
Inauguração Opening 4 Fevereiro, 19h00 4th February, 7 p.m.
Nota Descritiva Short Description
Reportagem Fotográfica de Fernando Guerra
NOTÍCIA NA TIME OUT LISBOA DE 03.FEVEREIRO 2016
PÚBLICO – FUGAS – GUIA DO LAZER
CONSTRUIR - Revista de Arquitectura e Design
Distância(s)
Há cerca de 25 anos li um ensaio no Le Monde diplomatique escrito por um arquitecto Americano cujo nome agora esqueci. Lembrado livremente, o ensaio focava sobre como as pessoas experienciam o espaço – aquele espaço particularmente culto: a cidade. Argumentava que Europeus e Americanos têm entendimentos distintos sobre o espaço urbano. Enquanto os Europeus, historicamente e culturalmente, vêm as cidades como provedoras de protecção dos perigos da selva fora dos muros das cidades, os Americanos têm uma visão oposta sobre as cidades: a cidade construída pelo homem é infestada com perigo e crime, enquanto a natureza primitiva representa ordem; a criação divina. Isto é obviamente uma simplificação grosseira, mas ilumina um dilema que todos os arquitectos e muitos artistas tiveram que lidar. Não há definição universal de como os humanos experienciam espaço e tempo. “Evidentemente”, você dirá. No entanto, nós actuamos muitas vezes como se apenas houvesse uma aproximação planificada, um único entendimento que é universalmente válido.
Desde a leitura do supracitado artigo que as questões que influenciam a percepção das pessoas sobre o espaço e tempo têm sido o meu maior interesse.
A primeira exposição que eu vi do trabalho do Pedro foi “Quadrados Espaciais” em Janeiro de 2014, onde mostrou peças de um projecto de investigação sobre espaço, luz e tempo. Fui imediatamente tocado pelas suas variações sobre uma forma simples. Há uma musicalidade nos trabalhos do Pedro que tornam mais compreensíveis as peças; uma questão académica apresentada esteticamente agradável é, em consequência, mais acessível a todos. É fascinante ver como Pedro sacode, torce e reviravolta sobre uma base temática. Pedro cria estruturas espaciais sobre as quais imediatamente comenta, mais uma vez e, mais uma vez, com subtis variações. Vendo trabalhos do Pedro lembramos artistas como Bernar Vernet com a sua pespectiva musical/matemática, – ou ainda mais aproximado, James Turrell com o seu projecto de uma vida sobre luz e espaço. Somos nós, os observadores, da nossa posição no espaço, que finalmente impregnamos significado nos trabalhos do Pedro. Vejo uma obra artística onde profundos e duradouros ensaios resultaram em claridade visual.
Pedro continua a sua investigação “Quadrados Espaciais” neste último projecto: “Distância”. Vemos variações sintonizadas, tematicamente alinhadas e apresentando uma lógica mútua; o produto de investigação meticulosa em distância, espaço e tempo. Pedro refere-se, por exemplo, à quarta dimensão, um termo que Einstein aplicou ao conceito de tempo. Vejo como a formação como escultor o influencia e enriquece como arquitecto – e vice-versa.
A importância e relevância da obra de Pedro pode ser melhor ilustrada se considerarmos o mundo onde vivemos hoje. Com as ondas de migrações que ocorrem é crucial para nós o entendimento dos espaços por onde estamos a entrar, e particularmente os novos lugares com códigos sociais que não nos são familiares. Artistas e arquitectos providenciam-nos com as chaves que permitem quebrar esses códigos.
Sou um espectador privilegiado. Obrigado meu amigo!
Bergen, 19 de Novembro de 2015
Jørgen Blitzner
(Curador e Artista)
Distance(s)
Around 25 years ago I read an essay in Le Monde diplomatique written by an American architect whose name I have now forgotten. Freely recalled, the essay focused on how people experience space – particularly cultivated space: the city. He argued that Europeans and Americans have very different understandings of urban space. While Europeans, historically and culturally, see cities as providing protection from the dangerous wilderness outside the city walls, Americans possess the opposite view of cities: the manmade city is plagued with danger and crime, while pristine nature represents order; God’s creation. This is obviously a gross simplification, but it highlights a dilemma that all architects and many artists have contended with. There is no universal definition of how we humans experience space and time. “But, of course” you might say. Nevertheless, we often act as though there is only one blueprint approach; one sole understanding that is universally valid.
Since reading the aforementioned article, the issues that influence people’s perception of space and time have been my main interest.
The first exhibition I saw of Pedro’s work was “Spatial Squares” in January 2014, where he showed works from a research project on space, light and time. I was immediately drawn to his variations on a simple form. There is a musicality in Pedro’s works which makes the works more comprehensible; an academic issue is rendered aesthetically pleasing and thereby more accessible for everyone. It is fascinating to see how Pedro flips, twists and somersaults on a thematic base. Pedro creates spatial structures upon which he immediately comments, again and again, with subtle variations. Upon viewing Pedro’s works one is reminded of artists like Bernar Venet with his musical / mathematical approach – or perhaps closer is James Turrell with his lifelong project on space and light. It is we, the viewers, from our position in space, who ultimately imbue Pedro’s works with meaning. I see an artistic oeuvre where thorough and lasting trials have resulted in visual clarity.
Pedro follows up his research from “Spatial Squares” in this latest project: “Distance (s)”. We see finely tuned variations, thematically aligned and displaying a mutual logic; the product of meticulous research on distance, space and time. Pedro refers, for example, to the 4th dimension, a term Einstein applied to the concept of time. I can see how Pedro’s background as a sculptor influences and enriches him as an architect – and vice versa.
The importance and relevance of Pedro’s work can best be illustrated by considering the world we live in today. With the current migration waves it is crucial for us to understand the spaces into which we are entering, in particular new places with unfamiliar social codes. Artists and architects provide us with the keys to crack these codes.
I am a privileged spectator. Thank you my friend!
Bergen, 19th of November 2015
Jørgen Blitzner
(Curator and artist)
DISTÂNCIAS – ESPAÇO – TEMPO – LUGAR[1]
O Pedro fez questão de que a sua primeira exposição em Portugal desde que foi viver para a Noruega, fosse aqui, neste lugar, em Lisboa.
Este é o lugar – Antigo Convento de S. Francisco de Lisboa – onde se vê e sente o tempo sucessivo e estratificado por camadas que se justapõem como num Sinclinal. Sedimentos de tempos sucessivos que se vêem e sentem nos “acrescentos” e alterações ao espaço original do edifício, que se vêem e sentem na erosão dos elementos arquitectónicos em pedra que permaneceram nas suas fachadas e interior.
Esta é a cidade que Pedro recorda todos os dias com um misto de saudade e distanciamento: a sua luz, as suas cores, a sua volumetria, o seu movimento, o seu ritmo, o seu clima, a forma como respira para e se relaciona com o Tejo. Umas vezes olha-o de frente, outras está de costas voltadas. Mesmo assim sente-se a presença contínua, o fluxo da água que corre pelas suas margens…
Espaço e Tempo, interligados no seu fluxo contínuo. É deste continnuum sem passado nem futuro – só presente – que surgem os objectos escultóricos que o autor nos sugere observarmos… em movimento… contínuo… tal qual são, sem mais.
Os objectos escultóricos[2] apresentados são sequência lógica e natural de outros anteriormente feitos e mostrados noutras matérias-primas; são variações sobre o mesmo tema, sistemática e obsessivamente aperfeiçoados, buscados e (re) encontrados.
De forma assumida Pedro – escultor e arquitecto – recusa o modo cartesiano de observar os fenómenos e de estar na vida. Por isso, ao observarmos estes objectos escultóricos proponho que o façamos com a consciência da “Estátua Sensível” que Étienne Bonnot de Condillac nos propõe. Esta é uma alegoria do seu “Traité des Sensations”, de 1754[3], que ele utiliza como forma de refutar o “cogito ergo sum” – o princípio das ideias inatas – de Descartes. O desafio será, pois, através da observação sensorial – com todos os sentidos bem alerta – chegar ao “sentido” indizível que cada uma das suas formas e configurações trazem. Formas errantes, sem lugar e escala adaptada a um espaço ou a um lugar específico, que poderão vir a ter as dimensões e a escala de um espaço a encontrar para elas. Para já elas mostram o lugar das inquietações formais e plásticas do autor; elas poderão estar num continuum espácio-temporal – a dita quarta dimensão na escultura – ou, então, numa área multidimensional da consciência colectiva e de cada um de nós…
Aqui e agora.
Fruam esta exposição.
Lisboa, 6 de Janeiro de 2016
José Esteves
DISTANCES – SPACE – TIME – PLACE
Pedro made a point that his first exhibition in Portugal since he moved to Norway must be in this very place in Lisbon.
This is the place – the former Convent of St. Francis of Lisbon – where one can see and feel the succession of time, stratified by layers as in a syncline. The sediments of successive times can be seen and felt in the “additions” and alterations to the original building, in the erosion of the architectural stone elements that remained in its façades and interior.
This is the city that Pedro recalls every day with mixed feelings of nostalgia and detachment: its light, its colours, its volumes, its movement, its pace, its climate, and the way it breathes and relates to the Tagus river. Sometimes the city looks at it face to face, other times it turns its back on it. Nevertheless one feels its continuous presence, the flow of water along its banks…
Space and Time, intertwined in its continuous flow. From this continuum with neither past nor future – only the present moment – sculptural objects emerge, and Pedro suggests we observe them… in movement… continuously… just as they are, without expectations.
The sculptural objects[4] exhibited are the logical and natural sequence of others previously made and shown using other raw materials; they are variations on the same theme, systematically and obsessively perfected, sought and (re)found.
Pedro, sculptor and architect, very assumedly refuses the Cartesian way of looking at phenomena and of being in life. Therefore, I suggest we observe these sculptural objects with the awareness of the “Sensitive Statue”[5] as described by Étienne Bonnot de Condillac. This is an allegory, from his “Traité des Sensations”, published in 1754, which he uses as a way of refuting the “cogito ergo sum” – Descartes’ principle of innate ideas. The challenge therefore consists of arriving at the ineffable “meaning” that each of its shapes and configurations bring you using sensory observation, with all your senses wide awake. Wandering forms with no place and scale adapted to a space or a specific place, which can have the size and scale of a space you find for them. For now they show the place of the author’s concerns about form and its plasticity; they may be in a space-time continuum – the so-called fourth dimension in sculpture – or in a multidimensional field of consciousness, both collective and of each and everyone of us…
Here and now.
Enjoy this exhibition.
Lisbon, January 6th, 2016
José Esteves
[1] Este texto está escrito em desacordo com Acordo Ortográfico.
[2] Perdoe-me o Pedro, mas prefiro designar assim as suas esculturas por razões teóricas que não cabe aqui desenvolver.
[3] Ver edição de 1798 revista pelo autor, publicada de novo pela Librairie Arthème Fayard, Paris, em 1984. Link: http://classiques.uqac.ca/classiques/condillac_etienne_bonnot_de/traite_des_sensations/traite_des_sensations.html.
[4] Forgive me Pedro that, for theoretical reasons which there’s no point developing here, I designate your sculptures as such.
[5] See the 1798 edition revised by the author, published again by Librairie Artheme Fayard, Paris, in 1984. Link: http://classiques.uqac.ca/classiques/condillac_etienne_bonnot_de/traite_des_sensations/traite_des_sensations.html.
Agradecimentos especiais special thanks to
Prof.Luísa d´Orey Capucho Arruda . Professor Rogério Taveira . Jørgen Blitzner . José Esteves . Sonja Otto