Claustro 8 – Exposição de Mestrandos de Escultura
21 > 30 JULHO | GALERIA
No dia 21 de Julho, às 18h00, inaugura a exposição Claustro 8, com trabalhos dos Mestrandos de Escultura.
Neste dia, e integrada na Noite Branca do Chiado, esta exposição estará aberta até às 00h00.
Nos restantes dias o horário será das 11h00 às 19h00 de 2ª a 6ª feira e das 9h00 às 17h00 ao sábado.
Este evento é passível de ser registado e divulgado pela Faculdade através de fotografia e vídeo
Apocatástase, Tempo e Lugar do Mestrado em Escultura de 2016-2017-FBA-UL
“ Sou este mês um ano mais velho do que era há doze meses; e, havendo chegado, como viram, quase ao meio do quarto volume sem ter passado do meu primeiro dia de vida, fica demonstrado que tenho agora mais trezentos e sessenta e quatro dias de vida sobre que escrever do que quando comecei… Daí resulta que, para satisfação de vossas excelências, quanto mais eu escreva — e, consequentemente, quanto mais vossas excelências lerem —, mais terão para ler.”
A Vida e Opiniões de Tristram Shandy de Laurence Stern
Neste ano lectivo, os alunos do 1º ano do mestrado em escultura e escultura pública, (especialização) Ana Catarina Pereira Mendes, Carla Souto Rodriguez, Cecília Estevez Costa, Cláudia Chochol Dowek, Filipa Pinto Simões Mendonça Amaro, Jéssica Burrinha, Liliana de Jesus Barrocas Alcaria, Marco Zecchinato, Maria Filomena de Fátima Pacheco Rodrigues, Paulo Jorge Dias Aguiar, Silvano Aristides Rea Roque, Andreia Tocha Silva, Jagoda Mateja tentaram recapturar e restaurar o tempo passado de modo irregular peculiar à memória, ou seja, a mente humana à medida que vai trabalhando, no processo de uma coisa, lembra-lhe continuamente outra, sem que haja ligação aparente entre elas.
À medida que meditam sobre alguns anos de vida passada e de obras realizadas, vão-se lembrando das coisas de acordo com o tempo emocional, não revivendo cada acontecimento das suas vidas, mas seleccionando os mais importantes, sendo o tempo, assim, interpretado através das suas emoções.
Percorrem caminhos divergentes, geralmente opostos, buscam a resolução dos problemas levantados pelas diferentes unidades curriculares de escultura. Se alguns tratam de trabalhos consistentes em modelar formas em argila ou soprar vidro, e em talhar em madeira ou pedra, outros recorrem a construções e modulações técnicas ligadas à indústria, bem como à performance, à instalação, à arte do corpo, à arte de arquivo, posicionamentos epistemológicos que definiram a doutrina das vanguardas, acossados pela dúvida, incerteza e pelo provisório, perdem-se no descobrimento infinito dos possíveis.
Hipóteses e contra-hipóteses alternam no trabalho descentrador do sujeito para que este possa ser, num conceito diferente de espaço e tempo, o centro simultâneo de várias perspectivas, baseados na recuperação da palinódia, do carácter refutativo do discurso linguístico.
As novas poéticas, exibem técnicas, artifícios da dúvida, e a retratação ostensiva e a cerimónia da correcção aparecem como novas carências. Acima de tudo, uma abordagem ontológica do ser humano, substitui a concepção epistemológica do todo, inútil perante um renascer do ser enquanto se dá, enquanto acontecimento como linguagem. Conceitos como os de diferença, identidade, exclusão, crise e precariedade, aceleração do tempo, interactividade ou inter-relação, assumem o protagonismo das reflexões no projecto de escultura.
O que faz falta recordar aqui, a propósito do aspecto espiritual da escultura, são as estatuetas paleolíticas da época aurinhacense, a Vénus de Willendorf e a de Lespugne, pois, não são simples interpretações “artísticas” de uma figura feminina, mas presenças nos ritos protectores da fecundação. Apesar de substituir um profundo mistério no fundo de toda a explicação que se trata de dar para compreender o nascimento de uma escultura, sentimos a obscuridade, que a sua razão de ser reside numa necessidade e num poder, nos quais se transcende o humano e que são naturais. No instinto da criação em escultura, intriga-nos mais o como do que o porquê. E se chegarmos a captar algumas das profundas razões que inclinam os alunos a esculpir, todo um ciclo de problemas, se apresenta diante de nós quando observamos o modo de pensar e de esculpir, tanto mais perturbador quanto se pensa nas metamorfoses e transformações da escultura.
Professor Escultor António Matos
19 de Julho de 2017