finalistas de pintura belas-artes ulisboa 15’16
29 JULHO > 25 AGOSTO I SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS-ARTES
Inaugura no sábado, dia 29 de julho, às 16h00, a exposição “finalistas de pintura belas-artes ulisboa 15’16″, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Este evento é passível de ser registado e divulgado pela Faculdade através de fotografia e vídeo
EXPOSIÇÃO DE FINALISTAS — PINTURA
(Ano lectivo 2015/2016)
Podemos iniciar o texto de apresentação desta tão díspar colectiva (tal como é díspar a produção artística deste e de outros momentos ou tempos, resultado de singularidades autorais diversas) reafirmando que esta exposição corresponde a uma selecção (participada pelos alunos-artistas) dos seus trabalhos na turma finalista do ano lectivo passado (2015/2016). Portanto, voltamos a esta sala, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e seus alunos de Pintura V e Pintura VI, artistas a descobrir ou redescobrir, com um colectivo que terminou as suas actividades no verão de 2016.
A questão do colectivo é fundamental: não vivendo nem trabalhando no isolamento do atelier, o artista-autor finalista (ainda estudante, portanto) descobre a sua singularidade no colectivo da turma e em diálogos constantes com colegas, amigos e docentes. A natureza experimental e livre destes trabalhos relaciona-se mais com as regras da disciplina (ou Unidade Curricular), onde existe ainda a figura da “classificação” numérica, esta experimentação liga-se tanto ou mais a essas particularidades, dizia, quanto ao mercado, sendo certo ou sabido que aqui já encontramos autores integrados nas regras ou lugares do mercado da arte.
O critério de selecção da colectiva é, parece-nos, o mais acertado: todos os finalistas participam, sem excepção, até porque todos desfrutaram de livre convívio e discussões de trabalho anual, trabalho contínuo, empenhado e interessado em que as interrupções lectivas não se fizeram sentir (os dois semestres das actividades lectivas passam num contínuo permanentemente fluido): ora porque a necessidade de trabalhar/criar é incessante, ora porque uma obra está sempre “incompleta”.
Trata-se aqui, nestes balanços anuais, da verificação de que “ensinar” arte é cooperar (no caso de finalistas, acima de tudo, cooperação entre professores e alunos), trabalhar no seio de uma tradição que se transmite (um “contexto” que se transmite, não uma receita), sabendo que há algo de incondicional (Derrida) nessa transmissibilidade. Próprio da universidade e do ensino artístico em concreto. Ou do ensino artístico, muito em particular.
De certo modo, a escola de arte(s) representa melhor do que outros casos a figura da “universidade”, tal como no-la expõe Derrida: a universidade é “sem condição” porque aqui tudo se pode dizer (mesmo pôr em causa “arte” ou “universidade”), logo a universidade tem aí a sua força e fraqueza, pois nessa incondicionalidade avança, mas também nessa autocrítica pode ser absorvida por “forças” alheias ao saber. E, como diria De Duve, a arte é um saber que se transmite e vai passando de geração para geração, construindo uma “tradição”, uma tradição moderna e actual.
Incondicionalidade, crítica e tradição, portanto, aqui se encontram. Mas, como nos mostra Jacques Rancière, outro factor aqui se junta: em Le Maître Ignorant, diz-nos o próprio título, o “mestre” nunca está acima do “discípulo”, há uma crítica da lógica da explicação (não há “receitas certas” em arte) e ambos se encontram em diálogo com o seu não-saber e diálogo surpreendente: o docente não pode prever aquilo com que se vai deparar – pode falar em ruptura ou continuidade, mas a surpresa predomina (quase às cegas, diz ainda Rancière).
Também Ortega y Gasset, no seu conhecido Misión de la Universidad, nos fala em “transmissão”, sendo esta a base do trabalho que, na incondicionalidade de Derrida, pode ser posta em causa, obviamente.
A chamada curadoria destas exposições é “aberta” e “democrática”: de cada aluno, aqui já proposto como artista (aliás ao finalista se lhe diz sempre ser já artista que como tal tem de pensar quando realiza trabalho avaliativo: avaliação final? Sim, que ele o imagine tal como sendo uma exposição individual), de cada aluno/autor se escolhe (com o próprio) um conjunto de trabalhos que melhor o represente, em troca de opiniões docente/discente. Sempre assim foi e continuará a ser.
Supõe-se que essa interacção seja a ferramenta de trabalho privilegiada, pois, como se dizia há umas décadas no mítico Black Mountain College, primeiro está o aluno, suas ideias, práticas e idiossincrasias, depois está o currículo da disciplina, concretamente o seu programa que, a este nível, não existe pura e simplesmente. É o aluno que, no início do ano, o propõe – o seu, entenda-se.
Se quiséssemos usar outra figura conhecida do pensamento, diríamos, voltando a Rancière, que o mestre é uma espécie de “mestre ignorante” no início, pois tem que encontrar-se, nesses primeiros dias de trabalho, com e no território do aluno. E este tem toda a liberdade para evoluir: podemos aqui encontrar obras ligadas ou explicadas por géneros tradicionais, como a paisagem ou o retrato (que os autores refazem a seu modo), obras fotográficas ou videográficas, objectualidade tendencialmente escultórica ou instalação. Mas sempre dentro do contexto da pintura, ainda que este contexto não se defina. E é isso que esta exposição procura: contribuir para essa definição.
Carlos Vidal