ENTRE A FIDELIDADE E A TRAIÇÃO — Cinco propostas para a tradução de Antínoo
28 JULHO > 10 AGOSTO I GALERIA FBAUL
Entre a Fidelidade e a Traição: cinco propostas para a tradução de Antínoo
Serão exibidas as propostas dos designers André Duarte, Beatriz Granado e Rita Gaspar e dos artistas João Pedro Fonseca, Mariana Romão e João&Alice.
No ano de 130 d.C. Antínoo era apenas o jovem parceiro do Imperador Adriano. Oitenta anos depois era considerado semi-Deus, constelação e moeda. Estátuas reproduzindo a sua beleza foram espalhadas pelo império romano, tendo criado convenções artísticas para a beleza masculina humana idealizada.
Hoje, mil e oitocentos anos depois, partindo de reproduções dessa mesma estatuária, recorrendo também ao relato histórico, procuramos reconstruir Antínoo.
A exposição engloba trabalhos de alunos e ex-alunos da Faculdade de Belas-Artes que criaram através da prática da tradução. A partir da confrontação das traduções feitas nas várias disciplinas patentes na exposição, houve a intenção de explorar em conjunto a personagem histórica tal como as forças que põe em tensão a sua imagem.
Boris Groys afirma que “no arquivo se coleccionam e se custodiam as coisas que são importantes, relevantes ou valiosas para uma determinada cultura; todas as outras coisas sem importância, irrelevantes ou sem valor, ficam fora do arquivo, no espaço profano”(1).
O que caracteriza o pensamento moderno é exactamente o ter-se dado conta de que o que importa ao homem − e à vida − é o que está dentro do arquivo. O espaço profano, que está fora do arquivo, carece de existência ou de valor existencial. Mas tudo pode entrar e desaparecer dos arquivos, do grande arquivo da história da cultura ocidental, com um simples gesto, com um simples redirigir o olhar.
Por isso se designou à época que dá lugar ao nosso modo de vida, a modernidade, porque com ela vinha também a possibilidade do novo existir, do re-viver, do re-inventar. O novo da modernidade é, justamente, ter-se dado conta de que o que realmente importa está no comércio dos signos e no seu armazenamento: sejam eles museus ou bancos de dados informáticos, a literatura, a música ou em geral o já acontecido.
Essa tensão desenha-se, de forma exemplar, no exemplo que Ezra Pound nos conta em ABC of Reading:
“Nenhum homem equipado para o pensamento moderno enquanto não tiver entendido a anedota de Agassiz e do peixe”(2). E a história diz o seguinte: um aluno de pós-doutoramento, coroado de honras e diplomas foi ter com Agassiz para receber uns conselhos finais. O grande homem ofereceu-lhe um pequeno peixe e pediu-lhe para o descrever. O estudante disse: mas isso é apenas um peixe dourado! Ao que Agassiz responde: Eu sei isso. Escreve uma descrição do peixe. Apenas uns minutos depois, o estudante voltou com uma descrição do Ichthus Heliodiplodokus, ou termo semelhante, usado para esconder o comum peixe dourado do conhecimento vulgar, apresentando-o como sendo da família dos Heliichtherinkus, etc., tendo procurado nos manuais em uso essa informação. Agassiz disse-lhe então para olhar para o peixe. Ao final de três semanas o peixe estava em avançado estado de decomposição, mas o estudante sabia alguma coisa sobre ele(3).
Professor José Gomes Pinto
- Boris Groys, Under Suspicion: A Phenomenology of Media. New York: Columbia University Press, p. 2.
- Ezra Pound, ABC of Reading. London & Boston: Faber and Faber, 1991, p. 17.3
- Ezra Pound, ABC of Reading. London & Boston: Faber and Faber, 1991, p. 17/18.
HORÁRIO: 2ª a 6ª entre as 10h00 e as 18h00; pausa para almoço: 13h00/14h00