Após apresentação no âmbito da programação da Temporada Cruzada Portugal-França, no Musée de Boulogne-sur-Mer, em França, em 2022, com cerca de 70 obras, a exposição inaugura agora no MNAC no dia 23 de Fevereiro de 2023, às 19h00.
Dia 20 de Abril, o Museu Nacional de Arte Contemporânea adquiriu em leilão um retrato da autoria do pintor Veloso Salgado, artista com representação já significativa na colecção deste museu nacional e que assim vê o seu núcleo reforçado, potenciando o conhecimento da sua obra, iniciado por Rui Afonso dos Santos, na exposição retrospectiva no MNAC, em 1999.
De há alguns anos para cá, a obra de Veloso Salgado tem sido objecto de estudo no MNAC, pela conservadora do museu, Maria de Aires Silveira, em particular após o legado, ao museu, do espólio da sua casa, pela neta do artista. Integram o legado várias pinturas e bastante documentação, (incluindo fotográfica) e um núcleo significativo de provas fotográficas, cujo estudo tem permitido avançar no conhecimento da obra deste artista e da sua rede de contactos artísticos em Portugal e em França.
A peça adquirida que integra a exposição Veloso Salgado de Lisboa a Wissant. Itinerário de um pintor português.
Primeira exposição, organizada em França, sobre o pintor português Veloso Salgado (1864-1945), propõe seguir o seu itinerário francês: Paris, a Bretagne e Wissant, local de ligação de uma amizade entre os artistas Virginie Demont-Breton et Adrien Demont e a Escola de Wissant.
Artista significativo em Portugal, mas pouco conhecido em França, Veloso Salgado estabelece uma ponte entre os dois países. Depois da primeira fase de estudos, em Lisboa, instala-se em Paris, viaja pela Bretagne e fixa-se na costa d’Ópale, em Wissant, antes de regressar a Portugal. Professor na Escola de Belas-Artes de Lisboa, decora os grandes monumentos da capital: Escola de Medicina, Museu Militar, Assembleia Nacional (actual Assembleia da República), etc. Esta exposição propõe seguir o percurso do artista em França, assim como reencontrar os seus amigos artistas, graças a extraordinárias obras da colecção do Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa. Um conjunto de pinturas oferecidas a Veloso Salgado pelos seus amigos, pintores de Wissant (Virginie Demont-Breton, Adrien Demont, Fernand Stiévenart, Planquette…) e legado ao Museu será apresentado pela primeira vez, em França. Estas pinturas integram um excelente núcleo, a que se juntam os retratos de Adrien Demont e de Virginie Demont-Breton, dos melhores retratos realizados por Veloso Salgado, oferecidos pelo artista aos amigos de juventude, que se mantiveram próximos até ao fim da vida.
Sobre o artista
“Veloso Salgado partiu para Paris, em 1888, já naturalizado cidadão português. Nasceu em Orense, Espanha, e com 10 anos trabalhava já na Litografia Lemos, do tio materno, em Lisboa. Fez o curso da Academia de Belas-Artes e ganhou a prova para pensionista em Paris e Itália com a pintura de História, A morte de Catão. Em Paris, trabalhou com o mestre paisagista Jules Breton, relacionou-se com a sua filha e genro, o casal de artistas Virginie Demont-Breton/ Adrien Demont e integrou o Grupo da Escola de Wissant, no Norte de França. Conhecido retratista, na zona de Lille, Veloso Salgado convivia com estes paisagistas, e mais tarde, já em Lisboa, professor da Academia, mantinha, através de regular correspondência, uma estreita relação de amizade, ao longo da sua vida.
No Legado de Veloso Salgado, constituído em 2016, encontraram-se algumas obras destes pintores, particularmente uma paisagem de Fernand Stiévenart (Douai,1862-Uccle, 1922), com dedicatória a Salgado. No Retrato agora adquirido, repete-se a frase, À mon cher ami, destinada a Stiévenart. Ambos datados de 1894, ano de realização do excepcional Retrato de Virginie, três anos depois do excelente Retrato de Adrien, pinturas encontradas em colecção particular francesa.
A pintura recentemente adquirida aponta para uma troca afectuosa entre artistas deste Grupo, evidenciando assim a presença de Veloso Salgado neste conjunto de cerca de 26 pintores, em torno das propostas simbolistas de Adrien e o realismo de Virginie, pintores que também dedicaram obras a Veloso Salgado. A exposição que o MNAC prepara para o Museu de Boulogne-sur-mer, em julho, revelará estas ligações luso-francesas que cruzam o itinerário de Veloso Salgado com os caminhos da Escola de Wissant. Estas cumplicidades são fundamentais para uma actualização do percurso artístico de Veloso Salgado, sobretudo entre 1888 e 1900, o período mais ousado do pintor.”
Maria de Aires Silveira
Assim como no Musée de Boulogne-sur-Mer, esta exposição integra duas obras de Veloso Salgado, A Família de Caim e Auto-retrato, pertencentes à Coleção de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Pode ler aqui a entrevista completa com a curadora