Campo Experimental: Ângela Ferreira em colaboração com Alda Costa
31 OUTUBRO 2024 > 16 FEVEREIRO 2025 I MUSART, MUSEU NACIONAL DE ARTE, MAPUTO, MOÇAMBIQUE
Campo Experimental: Ângela Ferreira em colaboração com Alda Costa ocorre no Museu Nacional de Arte (MUSART), em Maputo, como a primeira exposição individual de Ângela Ferreira em uma instituição pública em Moçambique. A exposição explora pesquisas materiais e ambientais realizadas nos primeiros anos da independência de Moçambique. O título da exposição refere-se ao nome de um laboratório de aprendizagem agrícola mantido no campus da Universidade Eduardo Mondlane desde 1976, onde funcionários da universidade, investigadores e estudantes trabalharam em conjunto para produzir alimentos, conceber ferramentas e estruturas, e formar agricultores e técnicos comunitários. Este local experimental foi coordenado pelo TBARN (Técnicas Básicas de Aproveitamento de Recursos Naturais), um grupo de pesquisa formado nos primeiros anos da revolução pós-independência, para melhorar a produção e a qualidade de vida dos agricultores com recursos mínimos. Ferreira baseia-se nos vestígios visuais e textuais do TBARN para revelar o espírito revolucionário que fez de Moçambique um centro global de experimentação radical na década de 1970 e no início da década de 1980.
O projecto expande a prática de investigação de Ferreira e a sua procura pela contemporaneidade do passado. Campo Experimental emerge do diálogo contínuo da artista com Alda Costa, historiadora de arte e trabalhadora cultural moçambicana cuja experiência vivida durante o socialismo e os estudos posteriores a tornam memória viva de um momento incomparável na história cultural. Na exposição, objectos históricos do acervo pessoal de Costa são expostos ao lado da obra de Ferreira. O design destes objetos destaca a priorização das condições materiais na vanguarda da produção cultural dos primeiros anos de Moçambique independente. Essas características acentuam a estética do TBARN presente em toda a exposição: do uso multifuncional de materiais simples, a ênfase nas formas angulares dos objectos destinados a uso pragmático e as cores vibrantes nas paredes, baseadas no panfleto informativo da universidade (Queimadas, 1977). Ferreira enfatiza o carácter experimental do TBARN ao transformar algumas estruturas desenvolvidas na época em objectos estritamente estéticos — o pensamento estético torna-se um método produtivo para reimaginar aspectos da vida rural sob um novo modelo de colectividade.
Originalmente aberta no espaço de arte contemporânea Rialto6, em Lisboa, a exposição chega a Maputo em um formato expandido: inclui vídeos do músico Scúru Fitchádu em uma performance comissionada para a exposição, fotografias de Kok Nam do campus experimental do TBARN, e imagens usadas por Ferreira no processo da criação de seus trabalhos. Outras obras referentes a Moçambique foram incluídas na exposição em sua versão no MUSART, incluindo For Mozambique (2008), exposta pela primeira vez no país. Através de um diálogo entre vozes e temporalidades diversas, os trabalhos de Ferreira investigam histórias que expressam simultaneamente pragmatismo político e ludicidade criativa, sendo simultaneamente enraizados localmente e de alcance internacional.
Álvaro Luís Lima e Paula Nascimento