à margem da noite – exposição de lizângela torres e clóvis martins costa
03 > 16 ABRIL I GALERIA
Inaugura no dia 3 de abril, às 19h00, na Galeria das Belas-Artes ULisboa, a exposiçâo “À Margem da Noite”, uma exposição de Lizângela Torres e Clóvis Martins Costa.
As investigações de Lizângela Torres e Clóvis Martins Costa no campo das artes visuais tratam de ações que deflagram, através do registro fotográfico, a aparição da imagem. O dispositivo de captura participa da experiência, interpondo-se ao corpo e à paisagem. Ao mesmo tempo em que registra, engendra a ação e possibilita o acesso do público às ocorrências nos espaços experienciados: a margem e a noite.
A exposição À margem da noite propõe a aproximação de poéticas que dialogam há 17 anos. Pode-se pensar aqui na mostra de percursos colaborativos, nos quais a parceria e o auxílio na execução e no registro de procedimentos resultam em diálogos nem sempre diretos, mas em ressonâncias que contaminam reciprocamente os processos de trabalho. Tanto a margem quanto a noite (e de forma ainda mais evidente, o ocaso) evocam a indiscernibilidade, o espaço indissociável entre tempos e visibilidades. Duas vias para o acesso ao devir abissal diante do qual os artistas se colocam para a ocorrência da criação.
No trabalho de Lizângela Torres a performatividade da fotografia veicula a ação artística desferida em um tempo outro. Caminhadas intermitentes no território noturno ou movimentações corporais envolvendo carvão e terra sob a lua cheia, destinados à câmara fotográfica, caracterizam as ações realizadas pela artista. As linguagens da performance e do desenho são entrelaçadas às fotografias, que capturam a duração dos deslocamentos, traçados no breu noturno pelos percursos do corpo.
As fotografias sucedem-se em imagens justapostas ou em sequência projetadas em um ambiente escuro. Como um simulacro da noite, a incursão noturna é proposta para a experiência do público. As ações lançadas por Lizângela reverberam nas movimentações daquele que participa da fruição da obra, estendendo a instância de produção do trabalho até a duração da experiência na situação proposta em exposição.
O conjunto de pinturas e fotografias apresentado por Clóvis Martins Costa resulta de uma série de experimentações em litorais onde o suporte da pintura é atravessado pela fotografia por meio da impressão de imagens. Através do entrelaçamento de tempos e lugares, as margens tramam com a pintura possíveis formas de enunciação.
A condição da pintura é aqui problematizada enquanto meio ao distender suas possibilidades de ativação através da mestiçagem com a fotografia. A pintura, como superfície resultante de distintos procedimentos de contato, acumula vestígios de ocorrências, materializando na superfície as faturas resultantes de distintas etapas processuais: ação, impregnação, impressão e elaboração do campo pictórico. Campo que consolida-se através de lavagens de cor (o procedimento consiste em destacar em elaborar a superfície por meio de transparências e filtros de cor). Intensidades são reveladas através de camadas que adensam e inflexionam o tecido, construindo campos de cor que escondem ou revelam as estruturas do conjunto ação/imagem/superfície. Signos de uma temporalidade submersa, as imagens fornecem pistas sobre o local de origem e acionam zonas de contato entre margens de rio, fotografia e pintura.
As ações de Lizângela Torres reincidem na duração do ocaso avançando noite adentro. O corpo sobrevive ao desaparecimento de todo o resto de espaço devorado pela maré noturna. Na obra de Clóvis Martins Costa a permanência da fotografia resiste ao apagamento sob o movimento das águas, bem como à sua quase desaparição sob as areias. As imagens em movimento e declínio teimam em existir na indeterminação da margem cambiante, como a duração entre o dia e a noite.