do convento ao palácio — exposição de finalistas de escultura 2016
11 MARÇO > 09 ABRIL I JARDIM E PALÁCIO MARQUÊS DE POMBAL – OEIRAS
Informamos que a inauguração é passível de ser registada e divulgada pela Faculdade através de fotografia e vídeo
Inaugura no próximo dia 11 de março, às 16h30, no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, a exposição “DO CONVENTO AO PALÁCIO” com obras escultóricas site specific da autoria dos alunos finalistas da licenciatura em escultura 2016 da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO DISPONÍVEL AQUI
AUTORES: Ana Fialho, Bruno Bastos, Carolina Duarte, Carolina Fontes, Carolina Jorge, Catarina Mendes, Fábio Colaço, Jéssica Burrinha, João Madureira, João Teixeira, Leonor Borges, Liliana Alcaria, Lilo Neto, Madalena Monteiro, Margarida Costa Marçal, Mariana Sousa, Mariana Tudela, Miguel A. Rodrigues, Rita Félix, Tiago Costa, Vítor Fontes e Viviana Coelho
A realização da exposição Do Convento ao Palácio, surgiu do convite da Câmara Municipal de Oeiras à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, dando continuidade a uma parceria já longa que potencia uma dinâmica de apoio e incentivo aos alunos finalistas de escultura.
À semelhança do ano anterior o Palácio Marquês de Pombal e Jardins, é uma vez mais, o local escolhido para a apresentação dos trabalhos desenvolvidas pelos alunos, ao longo de dois semestres, num exercício de reflexão e reinterpretação desta casa.
São várias as leituras propostas e a materialização no espaço ocorre ao longo do circuito visitável e jardins, com a apresentação de trinta e quatro peças.
Este projeto é, pela sua natureza, um desafio que nos é proposto, enquanto fruidores deste espaço, a descobri-lo de outras formas. Num exercício de desconstrução e reinterpretação a exposição Do Convento Ao Palácio habita o vazio desta casa até 9 de Abril 2017.
Um muito obrigado à Faculdade de Belas-Artes e aos jovens artistas por partilharem connosco o seu olhar sobre este espaço.
A Vereadora da Cultura
Marlene Rodrigues
Fazia parte da vida monástica, em particular, das ordens mendicantes, a busca da simplicidade e do despojamento material. A vida na cela do convento, nomeadamente, entre os Franciscanos, circunscrevia-se ao elementar: o leito, a mesa, a cadeira, o livro, o copo, o prato, a colher, o lápis e papel.
No Palácio, pelo contrário, o que se procurava era a pompa e a opulência, como estratégia ostensiva da afirmação do poder.
Enquanto que no primeiro termo se privilegiava a vivência do ascetismo, cuja vontade persevera na redução das necessidades existenciais, restringindo ao essencial a satisfação dos instintos naturais, no segundo caso, o que sobressai, por contraste, é o hedonismo, que encontra na satisfação do prazer uma consumação do sumo bem-estar.
Do convento ao palácio não é o nome de um filme, mas, antes, o título que os estudantes de escultura resolveram atribuir à mostra dos seus trabalhos, na sequência de uma sessão de “brainstorming”. A escolha do título, resulta do facto de Faculdade de Belas-Artes funcionar, provisoriamente, há 180 anos no Convento de S. Francisco, no Chiado, e dos finalistas (2015-16) terem aceite o repto, lançado pela Câmara Municipal de Oeiras, para trabalharem o interior e o Jardim adjacente ao Palácio Marquês de Pombal como espaços de referência para o desenvolvimento dos programas dos dois últimos semestres (Escultura V; VI).
Embora, em termos contemporâneos, o carácter dos dois espaços, quer do convento, quer do palácio, tenham perdido a funcionalidade inicial, podemos, ainda assim, encontrar correspondências que acabaram por determinar o resultado final do projeto.
Uma primeira analogia, verifica-se, por exemplo, no percurso que cada criador estabelece desde a primeira ideia até à consumação integral da obra incorporada no local. O trabalho criativo começa por ser solitário, feito de renúncias, de avanços e recuos (momento ascético) para culminar, depois de muita determinação, labuta e algum sofrimento, na sua exibição pública (momento hedonista).
As relações de similitude entre os locais podem, ainda, estabelecer-se a partir do contraste entre as deficitárias condições de espaço no convento que se traduz nomeadamente, em inibições de escala e pressão psicológica para que os estudantes trabalhem em escala doméstica, em vez da mais adequada ao contexto; no acanhamento orçamental para aquisição de materiais (que a conjuntura da crise agravou); a falta de recursos oficinais, adequados à transformação dos materiais; o desdém de “velhos do restelo” que consideram desadequado jovens tão inexperientes (com apenas três anos de formação) poderem manifestar-se fora do âmbito abstrato dos exercícios académicos.
O grande mérito de um projeto desta natureza reside, precisamente, na saída da redoma da tutela, em que se baseia o ensino e na propiciação do confronto com o real. A passagem ao terreno do concreto encerra, sempre, algum grau de indeterminação que é preciso aprender a ultrapassar. Para que o projeto alcance a plena concretização é necessário aprender a transpor a ilusão do mundo idilicamente idealizado e ir à luta, disposto a ultrapassar as inúmeras contrariedades e contratempos que qualquer projeto acarreta.
O que se poderá ver no interior e exterior do palácio, não corresponde à totalidade dos trabalhos realizados (uma vez que alguns se autoexcluíram, designadamente porque, entretanto, se ausentaram do país) também não resulta de uma seleção de obras, porque o empreendimento resulta da produção da turma e não de um projeto de curadoria. O que o visitante pode ver são obras de escultura realizadas em variadíssimos materiais (cerâmica, gesso, madeira, aço, plástico, acrílico, tecido, etc.) que expressam diversas abordagens, ajustadas ao espaço, de acordo com a singularidade poética de cada participante.
A concluir, queria deixar uma palavra de apreço à Camara de Oeiras pela oportunidade que deu aos jovens escultores para mostrarem o seu trabalho e uma mensagem de incentivo aos participantes (Don’t be afraid to fail / be afraid not to try), que se reuniram para levarem a bom termo este projeto.
Professor José S. Teixeira
24.02.2017