exposição finalistas pintura 2014/2015
7 > 30 JULHO I SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS-ARTES
Inaugura no dia 7 de Julho, pelas 18h30, mais uma exposição dos finalistas da licenciatura em Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
A Sociedade Nacional de Belas-Artes, na Rua Barata Salgueiro, mais uma vez, cedeu graciosamente o Salão Principal para a realização desta exposição anual que estará patente até 30 de Julho.
Horário: 2ª a 6ª 12h00/19h00; sábado 14h00/20h00
Voltamos aqui, FBAUL e seus alunos de Pintura V e Pintura VI, artistas a descobrir ou redescobrir, com uma turma que terminou as suas actividades escolares no verão de 2015. O critério é, parece-nos, o mais acertado: todos os finalistas, sempre de curso já concluído, participam, sem excepção, até porque todos desfrutaram de livre convívio e discussões de trabalho anual, trabalho contínuo, empenhado e interessado em que as interrupções lectivas não se fizeram sentir (os dois semestres das actividades lectivas passam num contínuo permanentemente fluido): ora porque a necessidade de trabalhar/criar é incessante, ora porque uma obra está sempre “incompleta”.
Trata-se aqui, nestes balanços anuais, da verificação de que “ensinar” arte é cooperar (no caso de finalistas, acima de tudo, cooperação entre professores e alunos), trabalhar no seio de uma tradição que se transmite (um “contexto” que se transmite, não uma receita), sabendo que há algo de incondicional (Derrida) nessa transmissibilidade. Próprio da universidade e do ensino artístico em concreto.
A chamada curadoria destas exposições é “aberta” e “democrática”: de cada aluno, aqui já proposto como artista (aliás ao finalista se lhe diz sempre ser já artista que como tal tem de pensar quando realiza trabalho avaliativo: avaliação final? Sim, que ele imagine tal como sendo uma exposição individual), de cada aluno/autor se escolhe (com o próprio) um conjunto de trabalhos que melhor o represente, em troca de opiniões docente/discente. Sempre assim foi e continuará a ser.
Só esta conjugação – participam todos e de cada um se mostra o “melhor” (ideia complexa e nada simples) – pode ser critério de uma exposição como esta, representativa da relação entre singularidades artísticas e lugar partilhado, neste caso escola, ateliês com alunos-autores em permanente interacção. Esta é uma colectiva sujeita à crítica e uma última exposição escolar. Duas coisas em simultâneo, portanto.
Supõe-se que essa interacção seja a ferramenta de trabalho privilegiada, pois, como se dizia há umas décadas no mítico Black Mountain College, primeiro está o aluno, suas ideias, práticas e idiossincrasias, depois está o currículo da disciplina, concretamente o seu programa que, a este nível, não existe pura e simplesmente. É o aluno que, no início do ano, o propõe – o seu, entenda-se. Se quiséssemos usar outra figura conhecida do pensamento, diríamos com Jacques Rancière que o mestre é uma espécie de “mestre ignorante” no início, pois tem que encontrar-se, nesses primeiros dias de trabalho, com e no território do aluno. É a história do discente que despoleta a relação de trabalho.
Pretende-se ainda que esta, como as exposições anteriores, ultrapasse a ideia da mera renovação cíclica e inevitabilidade de sequências geracionais em modas alternadas (há grupos de tendências e grupos de amigos, não há “a” tendência). Quero dizer que, mais do que renovação, seria interessante encontrar aqui surpresas, não diria rupturas mas sobressaltos, ou seja, não se deseja nestas colectivas apenas uma “renovação na continuidade”, mas antes encontros com linguagens que deixem o espectador perplexo, exercendo as suas faculdades críticas diante de objectos aparentemente com poucoem comum. Comopouco em comum, aparentemente como disse, podem ter autores que partilham espaços e opiniões por vezes há mais de um ou dois anos, até quatro ou cinco. Apesar disso, há distâncias interessantes de observar. E proximidades provenientes desse espaço partilhado que é o ateliê da escola (ou as discussões de ateliê).
Deve também ver-se nesta exposição uma prova de capacidade organizativa além de criativa e balanço prospectivo dos alunos (que tudo isto organizaram – exposição e catálogo –, naturalmente com apoio da escola). Portanto, dá a exposição sequência aos conteúdos programáticos das disciplinas (digamos, continua aqui a Avaliação Final), revela a sua pertinência no contexto do ensino artístico, alicerça-se ainda na fase final da formação escolar como o momento por excelência dirigido à avaliação individual no seio do colectivo.
Trata-se de um balanço de actividades num momento em que os alunos-artistas já não operam em rígidas fronteiras disciplinares nem numa separação de blocos escola/exterior/mercado/crítica, pois estão, muitos deles, conscientes das necessidades profissionais e do tipo de circulação que melhor responde às suas opções. Tudo isso sairá clarificado e aqui demonstrado numa medida, digamos, directamente proporcional à disparidade de propostas sugeridas.
Disparidade, singularidade, unidade e contradição. Assim se caracterizam os tópicos essenciais destas mostras anuais. Não para que o tempo opte por um destes pólos, mas para que neles opere. Com todos.
Carlos Vidal