Dos Barros aos Gessos
5 > 9 JANEIRO I GALERIA FBAUL
Dos barros aos gessos
Estratégias de Prevenção dos Moldes dos Esbocetos de Lagoa Henriques
No seu vasto atelier, Mestre Lagoa Henriques (1923-2009) possuía, entre outras peças escultóricas, vários esbocetos, modelos e estudos em barro. Algumas dessas peças foram projectos para esculturas existentes, outras para obras nunca realizadas e outras, ainda, eram pequenos improvisos que o escultor fazia para si.
Neste caso, como no de qualquer escultor, o barro é a primeira marca da mão do artista e o registo inicial do seu pensamento plástico. Em Lagoa Henriques o barro assume também a maior importância, pois, segundo as suas palavras, por este material descobriu-se escultor. Certo dia, mostrando alguns desenhos ao Professor Agostinho da Silva, seu explicador, que o estava a preparar para o curso de Letras, este disse-lhe:
“O que você é ou poderá vir a ser é escultor. Experimente trabalhar em barro.
E ele mesmo, logo ali, pela lista telefónica, me deu a morada de uma olaria ao Desterro.
Comprei a argila e modelei uma pequena cabeça e um grupo de figuras. Quando Mestre Agostinho da Silva as viu, foi determinante: Você deve fazer Belas Artes. Você é um escultor!”[1]
Após o falecimento de Lagoa Henriques, o escultor Carlos Amado (1934-2010), temendo que os barros se deteriorassem mais, mandou fazer, a partir deles, moldes de silicone em madres de gesso.
A dissertação de Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, de Joana Castanheira Monteiro Correia, intitulada Estratégias de Prevenção dos Moldes dos Esbocetos de Lagoa Henriques teve como objectivo preservar esses moldes, pois quer o silicone, quer o gesso, também se podem deteriorar, devido à temperatura, sujidade, etc.
Neste trabalho, além de várias técnicas de preservação, consolidação e limpeza, realizaram-se os positivos dos moldes, numa estratégia que visava limpar o próprio silicone. Os moldes foram também preenchidos por gesso, para assim serem preservados, de acordo com as melhores e mais modernas técnicas de conservação.
A presente exposição mostra o resultado deste trabalho e algumas das madres originais. Como forma de homenagear a obra escultórica de Lagoa Henriques e o legado que deixou à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, revelam-se, igualmente, as peças em gesso, outrora feitas em barro.
Nesses gessos, ainda observamos os dedos e os gestos do Mestre e recordamos que, afinal, este escultor iniciou-se precisamente com esse material mítico, matéria plástica com a qual os deuses da Mesopotâmia e o Deus da Bíblia fizeram o Homem.
Eduardo Duarte
16/12/2014
[1] Lagoa Henriques – “…o risco inadiável” O Caderno do Desenho. Lisboa: Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, 1988, p. 9.